Tânia: atriz, leal, questionadora, sincera, irônica, exigente, fácil, radical, sensível, dura, intensa, controladora, generosa, egoísta, protetora, desapegada, aberta, ermitã, sensata e aventureira. "Sou todas em Uma" BEM VINDOS!


Oficina de teatro com Tânia Cavalheiro

24 de fev. de 2010

ALZHEIMER!

ALZHEIMER..."AL", para os íntimos. O “AL”Antigamente, se morria de gripe, de parto, de nó nas tripas, apendicite, de malária, de tuberculose e “daquela doença”, que dava azar dizer a palavra câncer. E de velhice. Não corremos tantos riscos, pois a medicina de imagem, com suas poderosas máquinas de tomografia, ressonância magnética, cintilografia, entre outros, detectam em tempo recorde qualquer hérnia deslocada ou vesícula deteriorados. Uma cirurgia de vesícula já é feita com quatro furinhos que mal se enxergam um ano depois; videolaparoscopia. Há 25 anos deixava uma cicatriz de cima à baixo na barriga, um horror! Já temos robôs realizando experimentos cirúrgicos...Passo! Hoje, os médicos não precisam mais perder tempo apalpando o abdômem dos pacientes, se pedem exames de laboratório que há 10 anos nem existiam e se sabe tudotudotudo em 24 horas! Me pergunto: que fim levou o coitado do 33? Vivemos num tempo no qual as notícias são transmitidas pro mundo inteiro quase na hora exata em que acontecem!Skype, e-mail, MSN, telefones de longo alcance, toda a tecnologia (que em 30 dias estarão ultrapassados), que nos mantém permanentemente conectados e até rastreados, na busca incessante de informações cada vez mais precisas. Troca-se órgãos como quem troca de roupa e até transplante de cara já se faz! Implantar um braço ou uma perna decepados, corriqueiro, até já perdeu a graça da novidade. Um tumor cerebral muquirana é perfeitamente operável, tranqüilo. Antes, os velhos ficavam caducos e dizíamos que era Arteriosclerose. Agora, vivem cada vez mais tempo, praticam asa delta aos 90 anos de idade, temos pílulas de felicidade e o bendito Viagra, que permite transar até 4 horas... No entanto, o cérebro continua sendo um enigma. Existe uma doença que está tomando conta e seu nome é temido quando diagnosticado: o mal de Alzheimer. Tem este nome pelo médico que o descobriu em 1906, o Dr Aloïs Alzheimer. Às vezes, ousamos até “brincar” quando alguém esquece algo e dizemos: “o alemão te pegou”? É, brincamos enquanto não chega perto...Conheço cada vez mais gente que tem, em sua família, pelo menos uma pessoa afetada por esta doença.Muita coisa têm se dito que previne este terrível mal; praticar exercícios físicos, fazer palavras cruzadas e manter o cérebro vivo. BALELAS! Mentira! Nada previne nem cura ainda. O presidente Ronald Reagan estava ainda no poder, exercitando seus neurônios diariamente e não foi a intensa atividade cerebral que o protegeu. Como explicar um casal que tem uma vida intelectual parecida, ambos exercitam a mente e apenas UM é afetado pelo Alzheimer? Dizem ser genético (hereditário), mas se nunca houve um caso desses na família; como explicar? É degenerativo, progressivo e ainda incurável. Uma demência que se "enxerga" ao olhar uma tomografia cerebral, na qual se vê uma zona que vai ficando literalmente branca e apagada. Rezo até pro diabo pra que os homens da ciência sejam iluminados rápido e descubram a cura! Claro que tenho medo de ser afetada, como qualquer ser humano (ainda) no seu juízo! No começo, parece um inofensivo “esquecimento” de nomes de pessoas com as quais o doente convive diariamente, ou tarefas a serem realizadas. Não sou médica nem enfermeira e não é minha intenção apavorar ninguém ou tirar a esperança, mas já tive uma clínica geriátrica, então convivi com algumas pessoas que faleceram desta doença e as experiências que tive foram todas dramáticas. No começo a gente até acha graça...viram quase crianças, contam as mesmas coisas várias vezes, comem, esquecem que já comeram e comem novamente. Misteriosamente, na maioria dos casos, vão emagrecendo. Muitas vezes, ao conviver com um paciente afetado pelo Alzheimer, lembro do “Poema Enjoadinho” de Vínicius: “bebem amoníaco, comem botão (e sabão), chupam gilete, bebem shampoo, ateiam fogo no quarteirão.” Não é exagero, não... No começo, alguns momentos de lucidez e memória perfeita de coisas que aconteceram 30 anos antes! Lembro de Irena que sabia todas as orações PERFEITAMENTE, mas não reconhecia nenhum de seus 7 filhos e muito menos seus nomes. Marina, aos 83 anos, dizia “muito prazer” ao seu filho único, todos os sábados, mas me repetia - exatamente igual todas as semanas - as receitas de pão que sua mãe fazia! Julia, beata ferrenha, dizia os piores palavrões que já ouvi; mas sempre durante o período da tarde e só pela tarde; pela manhã contava do 1 ao 98 centenas de vezes... Muito estranho! Logo temos que ajudá-los a vestir-se, pois fechar o tal botão na casa certa parece tarefa impossível. Em alguns casos, o risco de fuga é constante; não podem ver uma porta aberta que lá se vão mundo afora, e a família sai desesperada gritando o nome pelo bairro, mas eles esquecem seus próprios nomes, assim como esquecem os dos filhos e cônjuges e das feições destes. Outros acendem todas as luzes da casa durante o dia e as vão apagando à noite. Passam - em segundos - da agressividade extrema ao afeto irresistível e é impossível não dar o pedido colo. O tempo vai passando e o cérebro vai “desaprendendo” coisas tão simples como lavar as mãos, servir-se de um copo d´água ou comer sozinho. Temos que dar comida na boca, lembrá-los de engolir, certamente trocar fraldas, bem como dar banho e enquanto caminham, cuidar pra que não enfiem os dedos na tomada de luz. Quando já não conseguem caminhar e passam mais tempo na cama, os movimentos corporais diminuem também. Os tendões vão-se encurtando e as pernas já não esticam. Surgem as terríveis escaras (feridas), produzidas pela falta de circulação sanguínea em várias partes do corpo, onde exercem pressão. As zonas mais afetadas parecem ser cóccix, quadril, calcanhares, cotovelos e até cabeça. Pode-se deixar a TV ligada achando que eles estão vendo seu programa favorito. Que nada; apenas olham aquelas figuras coloridas em movimento constante! Chega um momento no qual a pessoa já não consegue engolir a comida; simplesmente esqueceu como se faz? Chegada a hora de instalar a horrorosa sonda nasal para alimentação, a família vacila, rejeita, nega e finalmente tem que aceitar, pra que seu familiar não morra de fome. Familiares que, muitas vezes, acabam tendo que ser medicados pelo estresse que traz o cuidar constantemente de uma pessoa com o mal de Alzheimer... O melhor é o revezamento familiar e muita vontade, muito amor, conforto físico e paciência! Nada mais... Pois o final é igual para todos; uma morte muitas vezes lenta, sempre dolorida - talvez mais pra família que pro próprio doente – um estado de quase coma constante. Alguns médicos "tratam" como se houvesse alguma possibilidade de reversão ou cura...mais pra agradar aos familiares. Soro, aspiração, debridação (retirada) das escaras, transfusão de sangue, antibióticos para as múltiplas e freqüentes infecções e “vitaminas”. A insuficiência renal é comum, pelo que o paciente acaba ficando edemaciado (inchado) e mais remédios são administrados! Quando o paciente já está no hospital, deve-se implorar aos médicos que prescrevam mais analgésicos para a dor; como se o pobre doente fosse ficar “viciado” em morfina!...ME POUPE! Um pouco mais de bom senso, por favor...e mais humanidade da parte de alguns profissionais da área da enfermagem, não fariam mal algum a ninguém. Será mesmo hereditário? Acabaremos todos neste século morrendo deste mal? Enquanto a medicina não descobre a cura, sofremos vendo nosso amado familiar ter uma morte lenta, que acaba sendo não só desejada, mas implorada a Deus, por mais que se ame o nosso doente! Ontem enterramos meu cunhado José, vítima do mal de Alzheimer, depois de anos de sofrimento dele e da heroína de minha irmã Catia que o zelou como nunca vi da parte de um ser humano. Quanta dedicação!!! Boa viagem Zezinho, nosso amado pra sempre! .LUZ EM TUA JORNADA!

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